terça-feira, 6 de março de 2012

Escola de ensino infantil volta a ser alvo de pichações racistas em São Paulo


Por Fernando Knup

EMEI Guia Lopes volta a ser alvo de pichações racistas

A escola, que vem se destacando pelo valoroso trabalho de aproximação com país, alunos, ex-alunos e toda a comunidade acabou sendo novamente vítima de pichações dos que prezam uma única cor. Localizada no bairro do Limão, zona norte da cidade de São Paulo, O EMEI Guia Lopes acordou na manhã deste último sábado (3), com novas marcas de intolerância. Com suásticas, cruz celta e exaltação a ‘raça’ branca alguns radicais picharam a escola que atende crianças de 3 a cinco anos da região.
Estava marcado para esse sábado uma das rodas de conversa temáticas bimestrais realizadas entre corpo docente e pais para discutir temas relevantes ao convívio das crianças, neste encontro a temática do racismo e da diversidade foram novamente colocados em pauta com o título de “Encontro contra os desencontros”. Segundo professores da escola, que atende crianças de 3 a 5 anos, as atividades são guiadas pelas diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais (link: http://www.uel.br/projetos/leafro/pages/arquivos/DCN-s%20-%20Educacao%20das%20Relacoes%20Etnico-Raciais.pdf ) , que tem o objetivo de corrigir injustiças, eliminar discriminações e promover a inclusão social e a cidadania para todos no sistema educacional brasileiro, o que tem promovido a ira de grupos de extrema direita locais.

A roda costuma contar com presenças especiais, como grupos de rap, de reggae e outros grupos culturais. O encontro deste sábado contou com a participação do Movimento AnarcoPunk, grupo que realiza atividades relacionadas ao respeito as diferenças e em memória as vítimas da intolerância e que já havia participado do multirão de grafitagem da escola após as pichações realizadas por esse mesmo grupo no ano passado.

Muito simpática e orgulhosa da escola a diretora Cibele Racy afirmou que a EMEI é alvo dessas práticas graças ao trabalho de levantar temas relevantes para alunos e pais, entre eles as relações étnicas e raciais. “A escola fica em evidência por essas coisas (as pichações), mas na verdade o problema é que o trabalho que nós realizamos aqui é muito sério. Esse ano nós vamos ampliar nosso foco de trabalho, queremos um trabalho multirracial, por que temos alunos filhos de imigrantes bolivianos, orientais, negros, brancos, não fazemos apologia ao negro, trabalhamos a diversidade cultural. As crianças e os pais tem um carinho pela escola e é isso que nós queremos resgatar, essa relação da família com os professores e com a comunidade, queremos resgatar esse lado.”

Segundo um dos representantes do grupo AnarcoPunk, essas pichações são realizadas por grupos que praticam outros atos de violência pela cidade. “Essas pichações foram feitas por skinheads, que costumam usar esses símbolos como a suástica, a cruz celta. Ao resgatar o ensinamento da cultura negra e da diversidade, batendo nessa tecla contra o preconceito, automaticamente estes grupos racistas intolerantes se sentem incomodados. A gente vê o ato covarde quando uma escola onde só tem criança é alvo desses grupos, achando que estão fazendo terrorismo ao pichar. Aqui só tem crianças, a maioria dos professores são mulheres, tem funcionários negros. Nós acreditamos em um mundo onde caibam vários mundos, que tenha o respeito as diferenças, que seja contra o preconceito.”




No próprio bairro é fácil encontrar outras pichações deixando claro que existem grupos radicais no local. Na chegada a escola um morador removia uma suástica pichada na porta de sua mecânica, seguida dos dizeres “Orgulho Branco”, “apareceu essa madrugada, agente apaga porque senão podem pensar que fui eu que fiz” dizia o responsável pela mecânica que não quis se identificar por medo de represálias.
Segundo Johnny “esses grupos estão organizados, por isso se tornou frequente todo fim de semana ataques contra negros, moradores de rua, homossexuais, rappers, imigrantes, não é somente uma ganguezinha, eles tem apoio de políticos, eles tem costa quente, são filhos de pais ricos, que tem dinheiro pra advogado, por isso eles agem, por saber que a justiça não vai depor contra eles, eles fazem porque sabem que vão ficar impunes. Hoje eles picham, amanhã esfaqueiam um professor, matam a diretora, a mídia coloca como briga de gangue, temos que abrir o olho pra essas coisas, e onde localizarmos esses grupos denunciarmos, informar aos amigos, para não corrermos o risco de sermos as próximas vítimas.”



Questionada sobre como o trabalho da escola é prejudicado com essas ameaças, a diretora deixa claro que essas ações acabam aumentando a aceitação dos pais de alunos que entendem a importância do trabalho do corpo docente. “Apesar desse tipo de situação, agente só se fortalece.” , diz ela.

A escola já havia sido vítima de outras pichações de caráter racista no dia 16 de novembro de 2011, uma das pichações deixa clara a oposição ás práticas de ensino da escola com a frase ‘vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas’ acompanhada de uma suástica, um dos principais símbolos utilizados pelos adeptos da ideologia nazista.

Após as pichações, a escola organizou um mutirão de grafitagem no muro, permitindo que as crianças, moradores do bairro e grupos que discutem o estímulo a diversidade e o combate a intolerância interagissem e dessem o colorido as paredes da escola que tanto temiam os vândalos envolvidos nessas ações.
Um vídeo produzido pelo grupo AnarcoPunk que se solidarizou com os funcionários da escola pode ser visto por esse link: (http://www.youtube.com/watch?v=IO5KS_nDOyE&list=UUcmGd-_0bqvS1yHOvNh27Vg&index=5&feature=plcp) , mais sobre o trabalho da escola pode ser acompanhado através do blog (http://emeiguialopes.blogspot.com/ )



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